Estamos enfrentando uma Epidemia de Esporotricose em várias regiões do Brasil, principalmente nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
VOCÊ CONHECE A ESPOROTRICOSE ?
A esporotricose é uma micose da pele causada por fungo do Complexo Sporothrix, espécies schenckii e brasiliensis, de evolução subaguda ou crônica que afeta a pele e os gânglios próximos ao local da lesão. A doença pode ser transmitida ao homem pelo contato com várias espécies de animais silvestres e domésticos, como cães e gatos. Os gatos são considerados os mais suscetíveis, adoecem e podem morrer. Desde 1998, a cidade do Rio de Janeiro convive com uma epidemia de esporotricose em gatos e seres humanos, onde cerca de 3.800 gatos, 120 cães e 4.000 casos humanos foram diagnosticados. No Estado de São Paulo, a doença é menos frequente, mas, de 2011 a 2015, o Centro de Controle de Zoonoses, da Secretaria Municipal de Saúde da capital, detectou a ocorrência da doença nas regiões de Itaquera, Itaim Paulista, Pedreira, Campo Grande, Vila Maria e Tremembé. No total, 148 gatos e um cão foram diagnosticados, e 13 pessoas foram encaminhadas para diagnóstico e tratamento no Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
A esporotricose persiste como uma doença negligenciada, subdiagnosticada e um grave problema de saúde pública.
COMO A ESPOROTRICOSE PODE CHEGAR A MINHA CASA?
Os fungos do Complexo Sporothrix são encontrados nos componentes do meio ambiente como terra, árvores, plantas, palhas, madeiras úmidas e, particularmente nas regiões de clima quente e úmido. A esporotricose é considerada zoonose ocupacional associada às atividades de agricultura e floricultura por ferimentos provocados por espinhos de plantas e farpas de madeira. E também para médicos-veterinários, tratadores, responsáveis por animais que estão mais expostos ao risco de transmissão e devem ter muito cuidado para não serem arranhados ou mordidos. A infecção nos seres humanos ocorre quando há a penetração do fungo na pele por meio de ferimentos ou cortes, assim como pelo contato direto com feridas dos animais doentes, pela arranhadura e mordedura de animais. Tanto gatos doentes quanto sadios carregam na boca e nas unhas os fungos provenientes dos hábitos de esfregar-se no solo, enterrar excretas e afiar unhas. A infecção dos animais também se dá pela penetração na pele devido a arranhões e mordeduras, principalmente em brigas. O animal que apresentar feridas que não cicatrizam deve ser isolado do contato com outros animais até que receba os cuidados do médico-veterinário. Animais doentes nunca devem ser abandonados, pois darão origem a novos focos da doença. Em caso de morte do animal com esporotricose, é essencial que o corpo seja cremado, e não enterrado, porque o fungo se mantém no ambiente, continuando o ciclo de transmissão.
COMO POSSO SUSPEITAR QUE MEU ANIMAL ESTÁ COM ESPOROTRICOSE ?
Nos animais, as lesões iniciam-se comumente nas patas, cabeça ou base da cauda, eventualmente a região da boca e dos olhos. São semelhantes a feridas devido a brigas, principalmente em gatos machos livres; o que confunde o proprietário do animal. Iniciam-se como feridas crostosas e com pus que não cicatrizam e não respondem ao tratamento com antibióticos. Essas lesões se espalham por todo o corpo, devido ao hábito de higiene que os felinos tem de se lamber, o que agrava o quadro para a esporotricose generalizada, atingindo pulmões, fígado, trato gastrintestinal, sistema nervoso central, baço, ossos, articulações, rins, testículos, mama e linfonodos. Os animais apresentam febre, prostração, falta de apetite e emagrecimento progressivo, e morrem.
COMO SUSPEITO SE ESTOU COM ESPOROTRICOSE?
Após o fungo penetrar na pele das pessoas, entre poucos dias a três meses, surge um caroço ou nódulo pequeno que aumenta de tamanho lentamente, formando uma ferida recoberta com crostas ou úlcera que não cicatriza e com discreto comprometimento do gânglio regional, a íngua. As primeiras lesões ocorrem geralmente nos braços e no rosto, e mais raramente na boca e nos olhos. Pelo menos duas formas de esporotricose podem ser evidenciadas: as restritas à pele, que são as mais freqüentes, e as formas extracutâneas, que afetam outros órgãos e são mais raras e graves.
A forma extracutânea atinge outros órgãos como pulmão, testículos, ossos, articulações e sistema nervoso. Nesta forma, a contaminação inicial costuma ser por ingestão ou inalação do fungo. As formas mais graves são mais frequentes em pessoas com diabetes, que fazem uso prolongado de corticóides e imunossuprimidas.
ESPOROTRICOSE: COMO É REALIZADO O DIAGNÓSTICO?
O diagnóstico da esporotricose animal baseia-se no histórico contado pelo proprietário, exame físico e dermatológico feito pelo médico-veterinário. Na suspeita diagnóstica nos seres humanos, além do aspecto das lesões, o médico deve estar atento à atividade ocupacional do paciente e do contato com animais. Para a confirmação do diagnóstico nos animais e no homem há necessidade da colheita de amostras da lesão e exames laboratoriais. Em humanos, nas formas graves, generalizada ou extracutânea, o escarro e o líquor também podem ser examinados. O diagnóstico deve ser realizado rapidamente para que o animal e as pessoas envolvidas recebam o tratamento e as orientações adequadas.
O Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo, disponibiliza o diagnóstico micológico para animais gratuitamente. O material colhido pelo médico-veterinário deve ser encaminhado, junto com todas as informações clinicas e de contato com os responsáveis, para o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da capital, que fica na rua Santa Eulália, número 86, em Santana. Os casos de doença no município de São Paulo devem ser notificados ao CCZ no e-mail zoonoses@prefeitura.sp.gov.br ou no telefone 3397-8918, para que se proceda à busca ativa de novos casos em animais e pessoas, principalmente nas áreas ainda não detectadas para intervir e diminuir a transmissão para outros animais e pessoas.
Nas situações acompanhadas por equipes do CCZ em que se detecta a presença de pessoas com lesões suspeitas, é feito o encaminhamento ao serviço do Ambulatório de Zoonoses do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, que fica na avenida Doutor Arnaldo, número 165. O telefone é o 3896-1200. As consultas poderão ser agendadas por telefone ou no site do Instituto.
QUAL O TRATAMENTO DA ESPOROTRICOSE PARA ANIMAIS E SERES HUMANOS?
O emprego de antimicótico por via oral durante meses ou anos deve ser receitado pelos profissionais habilitados, médicos-veterinários e médicos. Para os animais, o medicamento deve ser administrado misturado ao alimento palatável de consistência pastosa, como patês ou ração úmida, para evitar a manipulação e risco de infecção dos tratadores no momento de medicar. Casos de reinfecção ou reincidência podem ocorrer, devendo-se então reavaliar o animal e reiniciar a medicação.
Nas formas graves, onde a infecção se propaga por todo o organismo e puser em perigo a vida da pessoa, pode ser necessário tratamento com antimicótico por via venosa.
Nas áreas mais excluídas do município de São Paulo e identificadas com surto de casos, o CCZ disponibiliza o tratamento para o animal.
ESPOROTRICOSE: COMO É EFETUADA A PREVENÇÃO E O CONTROLE?
As ações de prevenção e controle da esporotricose animal dependem dos diagnósticos clínico e laboratorial precisos, e do correto tratamento, incluindo o tempo necessário e as orientações prescritas pelo médico-veterinário. Na suspeita de infecção humana, a pessoa deve ser encaminhada aos serviços médicos de saúde. Os trabalhadores que lidam com jardins e terra devem usar luvas e até máscara e procurar a assistência médica caso apareçam feridas na pele.
Até agora, não existem vacinas contra a esporotricose tanto para animais quanto para os seres humanos.
Os animais em tratamento devem ficar isolados em local seguro, mantendo o ambiente sempre limpo e desinfetado. Para execução de todas as tarefas de lida com animais doentes e seu ambiente, deve-se usar luvas e máscara. As feridas dos animais não deverão ser cobertas com curativos. Os animais não poderão tomar banho.
Animais infectados nunca devem ser abandonados e caso venham a morrer deverão ser cremados e jamais enterrados. A castração de felinos saudáveis evita que saiam de casa e venham a se infectar.